No tempo de Santo Tomás de Aquino, a maior parte dos teólogos sustentava que os anjos não são puros espíritos. A composição de matéria e forma era a única explicação plausível, até então, para a finitude dos anjos e sua distinção em relação a Deus. O escrito De substantiis Separatis (Sobre os Anjos) emerge, nesse contexto, como a mais original das 'monografias' medievais sobre as substâncias separadas, quer em razão da novidade de seus princípios, quer pela genialidade de suas resoluções teóricas.
Embora inacabada, trata-se de uma das exposições mais amplas de Tomás de Aquino a respeito das substâncias separadas, sob o aspecto histórico-cristão e doutrinal. De Platão e Aristóteles a Avicebrão e Avicena, o Aquinate conduz-nos ao conhecimento das diversas tentativas de explicação da existência e da natureza das substâncias separadas. O leitor notará o quanto Tomás soube distinguir entre o neoplatonismo greco-romano e o greco-árabe, ou seja, entre a metafísica do Liber de Causis, a de Alfarabi e Avicena e a do Pseudo Dionísio Areopagita. Tal distinção histórico-doutrinal é decisiva para a crítica filosófica de Avicena e de Avicebrão, apontados como os que se desviaram do espírito metafísico de Platão e Aristóteles.
Trecho das orelhas do livro, de autoria de Sérgio de Souza Salles
Tradução fundamental de Santo Tomás de Aquino, o livro sintetiza e sistematiza os conhecimentos do Aquinate acerca de doutrina tão intricada e espinhosa como esta, dos Anjos e sua Substância Pura. O leitor logo se debrucará sobre um apanhado de pareceres anteriores de diversos filósofos gregos, seguido da refutação de erros de diversas heresias acerca do tema e concluido por um fecho expositivo acerca da doutrina católica sobre as Substâncias Puras e sobre os Espíritos Angélicos. A linguagem do Aquinate, empregada no latim eclesiástico e aqui traduzida com bastante fidelidade, chega a beirar o poético, tamanha sua perfeição e cadência harmoniosa.
Edição bilíngue, proporciona ao leitor os originais latinos para contraste com a tradução, além de uma densa apresentação à obra conferida pelo especialista Paulo Faitanin.
Apresentação
Nota Prévia do Tradutor
I. Sobre os pareceres dos antigos e de Platão;
II. Sobre o parecer de Aristóteles;
III. Sobre a concordância entre as posições de Aristóteles e Platão;
IV. Sobre a diferença entre as mencionadas posições de Aristóteles e Platão;
V. Sobre o parecer de Avicebrão e seus argumentos;
VI. No qual a posição de Avicebrão é refutada;
VII. Sobre não poder haver uma só matéria para as substâncias espirituais e para as corpóreas;
VIII. Sobre a refutação dos raciocínios de Avicebrão;
IX. Sobre o parecer dos que afirmam que as substâncias espirituais não foram criadas;
X. Contra os que afirmam que nem todas as substâncias espirituais procedem imediatamente de Deus;
XI. Contra platônicos que afirmam que certas perfeições essenciais das substâncias espirituais não procedem imediatamente de Deus;
XII. Contra Orígenes, que propôs terem sido todas as substâncias espirituais criadas iguais por Deus;
XIII. Sobre o erro de alguns acerca da cognição e da providência das substâncias espirituais;
XIV. Sobre a Divina Providência se estender a todas as coisas;
XV. Na qual se responde às objeções expostas acima;
XVI. Sobre o erro dos maniqueus acerca das substâncias espirituais;
XVII. Sobre a origem das substâncias espirituais segundo a fé católica;
XVIII. Sobre a condição das substâncias espirituais;
XIX. Sobre a distinção entre os espíritos angélicos.